Papa Zacarias e a Europa aos seus pés
O bispo de Roma é o verdadeiro político que conseguiu dominar a Europa ligando-se aos mais fortes
Zacarias (741-752), bispo de Roma, era um homem extremamente astuto, que a Igreja venera como santo. (Aliás, quase todos os bispos de Roma dos primeiros séculos foram declarados santos em bloco!).
Quando Zacarias assumiu o cargo de bispo, Roma estava ameaçada por um lado pelos longobardos e, por outro, pelo imperador do Oriente, filho de Leão o iconoclasta que havia tomado dos papas os ricos domínios das regiões da Itália central e continuava a matar todos aqueles que veneravam as imagens.
Os reis franceses tão bajulados por Gregório III não quiseram ajudar a Sé de Roma, de modo que Liutprando, o rei longobardo, assolava a Itália e saqueava Roma. Zacarias viu-se perdido.
Seus antecessores, na esperança de fundar um domínio temporal cujo rei fosse o próprio bispo de Roma, tudo fizeram para libertar-se dos imperadores gregos... E eis que agora estavam prisioneiros dos longobardos!
Então Zacarias recorreu à traição: prometeu entregar a Liutprando o duque de Spoleto, de nome Trasimundo, com a condição de assinar com a Sé de Roma um tratado de paz, e restituir-lhe quatro importantes cidades. LiUtprando aceitou imediatamente.
Então o bispo Zacarias juntou suas tropas com as de Liutprando e marchou contra Trasimundo, que foi vencido e enclaustrado num convento.
Já observamos neste episódio que Zacarias agia como um soberano político, fazendo tratados, traindo amigos da Igreja, como o duque de Spoleto, quando a política o exigia, e tendo até o seu próprio exército. Esta é a primeira vez que a História fala de "tropas pontifícias"; mas certamente tudo deve ter começado bem antes...
Acontece que o tempo passava e Liutprando não devolvia as quatro cidades... Então Zacarias, com as roupas pontifícias e acompanhado de muitos bispos que dependiam do patriarcado de Roma, muitos padres e diáconos, foi a Suterrama, uma cidade perto de Spoleto, onde se encontrou com o rei longobardo na Igreja de São Valentim.
Desmanchou-se em louvores e protestos de fidelidade, a tal ponto que Liutprando se deixou convencer da fidelidade de Zacarias e devolveu-lhe as quatro cidades, e os patrimônios de Sabina, Narni, Ossimi e muitos outros, e firmou uma paz por 20 anos com o bispo de Roma.
Quando voltou a Roma, Zacarias teve a notícia de que a Inglaterra e a Alemanha haviam jurado fidelidade à Sé de Roma. Deste modo Zacarias estava no momento mais alto da política pontifícia. Agora podia dizer que a Europa era (quase) sua. O Oriente ficava bem longe e não dava trabalho.
Talvez a melhor província cristã fosse a Alemanha, onde o santo bispo Bonifácio criava bispados cujos titulares eram súditos devotos do bispo de Roma. Já na França as coisas eram um pouco diferentes.
É o mesmo bispo Bonifácio que escreve ao papa Zacarias: “Bem sabeis, santo padre, que o duque dos Francos, Carlomano, pediu-me que eu convocasse um sínodo nas terras de sua jurisdição porque ele quer trabalhar para o restabelecimento da disciplina eclesiástica.
Carlomano está convencido de que, para reformar os costumes dos eclesiásticos francos, devemos reunir com uma certa freqüência os senhores da terra e o clero, pois já faz 80 anos que os francos não têm sínodos nem nomeiam bispos.
Com efeito, as sés episcopais estão abandonadas nas mãos de seculares avarentos, ou de clérigos devassos que abusam delas como se fossem bens profanos. Mas antes de me meter nesta reforma eu desejo conhecer a opinião da Sé de Roma e os cânones que determinam e regulam como se deve administrar os bens da Igreja e os costumes dos eclesiásticos".
Como o leitor vê, é uma carta interessante e reveladora...
Zacarias respondeu aprovando (na qualidade de patriarca da Europa) a criação de novos bispados e dava a Bonifácio a autorização para convocar um sínodo no reino dos francos, mas que ele, Bonifácio, proibisse as funções sacerdotais a bispos, padres ou diáconos que desposassem mais de uma mulher ou tivessem relações íntimas com virgens consagradas a Deus.
E assim, em 21 de abril de 742, Carlomano abriu o sínodo cujas decisões foram submetidas ao bispo de Roma que agora, além da Itália, Inglaterra e Alemanha, podia dominar também o reino dos francos.
Na falta de historiadores que nos relatem fatos e costumes desta época, existem na Biblioteca do Vaticano numerosas cartas deste santo bispo Bonifácio escrevendo regularmente ao bispo de Roma acerca daquilo que está acontecendo na Alemanha e nos reinos francos, sempre pedindo a opinião de Zacarias e as suas diretrizes.
Numa outra carta, Bonifácio se queixa dos padres francos e escreve: "Os falsos bispos, os padres infames e sodomitas, os clérigos impudicos e assassinos abundam neste país."
Entre muitas cartas, vou citar esta: "Alguns prelados meus se queixam da avareza da Cúria romana dizendo que em Roma se vendem todos os cargos; e apesar do seu desejo de obterem o palio, declaram que não ousam pedi-lo por não serem suficientemente ricos para poder pagá-lo. Nós repelimos esta calúnia e para melhor convencê-los, pedimo-vos que concedeis esta dignidade ao nosso irmão Grimm, "' bispo de Ruán".
Zacarias respondeu: "... confesso, todavia, que para vergonha desta Santa Sé, nossos predecessores têm vendido muitas permissões para encherem os cofres de São Pedro quando estes j se achavam vazios pelas guerras".
Numa outra carta, Bonifácio se queixa dos padres francos e escreve: "Os falsos bispos, os padres infames e sodomitas, os clérigos impudicos e assassinos abundam neste país."
"Um deles, o prelado Adalberto pretende que veio um anjo do extremo da terra, trazer-lhe umas maravilhosas relíquias com as quais pode obter de Deus o que bem quiser, e ouso afirmar, sob juramento, que recebe freqüentemente cartas de Jesus Cristo conseguindo deste modo a confiança das famílias e seduzindo as mulheres e apanhando somas de dinheiro que deviam pertencer aos bispos legítimos."
"Adalberto não só se declara santo, mas disse ser um apóstolo e consagra igrejas em sua honra (...) para desviar em seu proveito as ofertas dos cristãos simples. (...) Outro herege é o bispo Clemente, que repele a autoridade dos concílios e chama de impostores São Gerônimo, Sto. Agostinho e São Gregório e diz que seus ensinamentos são erros grosseiros. (...)" "Ele sustenta que nenhum poder tem o direito de tirá-lo de seu bispado, embora viva com uma amante, tenha dois filhos adulterinos e seja circuncidado. Ele introduz o judaísmo no meio dos cristãos. Etc. etc." (Cfv. M. Lachatre; op. cit. V.I.; pág. 313, ss).
Eram tempos de uma Igreja politicamente forte mas de vida cristã extremamente pobre.
A essa carta Zacarias respondeu: "... que seja expulso da Igreja, despojado do sacerdócio e lançado à prisão; que sofra todas as torturas possíveis, etc. etc". Naturalmente ninguém fez nada e tudo ficou como antes...
Enquanto isso Carlomano se tornou frade e Pepino se tornou senhor absoluto da França ligando a Sé de Roma aos seus interesses e realizando parte da ideologia do poder eclesiástico.
Autor: Carlo Bússola, professor aposentado de Filosofia da UFES
Fonte: Publicado originalmente no jornal “A Tribuna” – Vitória-ES, numa série sob o título “Os Bispos de Roma e a Ideologia do Poder”.
Nota e Comentários do IASD Em Foco
Temos aqui, na postagem destes excelentes artigos, enfatizado reiteradamente a erudição, imparcialidade e honestidade intelectual do Dr. Carlo Bússola. Tudo o que ele escreve aqui em termos de História e a “ideologia de poder dos bispos” é fidedigno...
Analisem com “espírito desarmado” e sinceridade as seguintes colocações do Dr. Carlo Bússola:
“[...] por 870 anos nenhum concílio ecumênico foi convocado pelo bispo de Roma. Os grandes concílios e sínodos foram sempre convocados pelos imperadores sem perguntar nada ao bispo de Roma” (A História dos Papas, artigo 30).
“[...] pelo prazo de mil anos nenhum bispo de Roma dirigiu decisões sobre matéria de fé e costumes à Igreja Universal” (A História dos Papas, artigo 30).
Foi somente no Concilio de Éfeso (431) que os delegados romanos declararam que "Pedro, a quem Cristo havia dado o poder de atar e desatar, continua a viver e julgar em seus sucessores" (Mansi; "Concilia Oecumenica"; IV; pág. 366). Mas ninguém lhes deu importância (A História dos Papas, artigo 30).
O bispo romano Gregório Magno (590-604) rejeitou com horror o título de "bispo ecumênico" (universal) entendido como plenitude da autoridade eclesiástica. Ele chegou a chamar este título de "criminoso e blasfemo a Deus” (A História dos Papas, artigo 30).
Por mais que esta verdade doa aos católicos sinceros – e eles existem aos milhões – isso não se aplica ao Cristianismo como um todo, mas, sim, à Igreja Católica Apostólica Romana. Este poder que, como estava profetizado centenas de anos antes, nas suas duas fases (imperial e papal) substituiria a Verdade da Palavra de Deus pelas mentiras das tradições humanas.
Vejamos, de forma sucinta, o que diz a Bíblia sobre isso:
“De um dos chifres saiu um chifre pequeno e se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa. Cresceu até atingir o exército dos céus; a alguns do exército e das estrelas lançou por terra e os pisou. Sim, engrandeceu-se até ao príncipe do exército; dele tirou o sacrifício diário e o lugar do seu santuário foi deitado abaixo. O exército lhe foi entregue, com o sacrifício diário, por causa das transgressões; e deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou” (Daniel 8:9-12).
Foi Roma, repetimos e provamos bíblica e profeticamente, que nas suas duas fases – imperial e papal – atacou todo o conjunto de verdades bíblicas e o jogou por terra. É o quarto animal de Daniel 7 (ler: Daniel 7:7) exatamente o quarto Império Mundial e, das suas cinzas, surge um poder (Roma papal) simbolizado pelo “chifre pequeno” ou “ponta pequena” (ler: Daniel 7:8, Apocalipse 13:1-10).
Nosso Senhor Jesus e profetas e escritores bíblicos já haviam advertido sobre o gravíssimo perigo de substituir a Palavra de Deus pelas tradições humanas:
“Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós o Mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? [...] E, assim, invalidastes a Palavra de Deus, por causa da vossa tradição” (Mateus 15:3 e 6).
“Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mateus 15:8-9).
“E em vão Me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente [com astúcia, falsificações da verdade, embustes, enganos de toda sorte] rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição” (Marcos 7:7-9).
“Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia [os padres dão show de filosofia: Tenho amigos que estudaram em seminários católicos e, hoje, são padres. Com eles é assim: Filosofia 10 X Bíblia 0] e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Colossenses 2:8).
Quando entram em campo questões religiosas, espirituais, questões de salvação: das quais dependem o nosso destino terno, é bom lembrar sempre que:
- O importante não é o que o presbítero diz!
- O importante não é o que o missionário diz!
- O importante não é o que o evangelista diz!
- O importante não é o que o bispo diz!
- O importante não é o que o obreiro diz!
- O importante não é o que o “apóstolo” diz!
- O importante não é o que o padre diz!
- O importante não é o que o pastor diz!
- O importante não é o que o teólogo diz!
O importante é o que Deus diz!!! O importante, e nisto está a nossa segurança eterna, é o que a Palavra de Deus diz!!! E ela nos ordena:
“Retirai-vos dela, povo Meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos” (Apocalipse 18:4).
Ela nos indica para onde devemos ir e qual caminho devemos seguir, em meio aos enganos finais dos últimos dias:
“Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os Mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14:12).
Para Quem Quiser Saber Mais Sobre o Assunto:
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