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postado em: 7/8/2008
O julgamento de Deus “Mas o plano da redenção tinha um propósito ainda mais vasto e profundo do que a salvação do homem. Não foi para isto apenas que Cristo veio à Terra; ... mas foi para reivindicar o caráter de Deus perante o Universo.” O evangelista e escritor Billy Graham, num de seus livros, relata a cena de batalha do filme Apocalipse Agora, de Francis Ford Coppola, onde aparece um mensageiro perambulando por entre as linhas de combate. Ao contemplar os rastros da destruição por toda parte, o personagem pergunta: “Quem é o chefe aqui?” Ninguém lhe responde à pergunta. Muitas pessoas, hoje, contemplando as injustiças sociais e violências que imperam no mundo, imaginam de modo um tanto vago se há um “chefe” no Universo. Por toda parte proliferam os descrentes em Deus, na Sua existência, e aumentam os céticos quanto ao Seu interesse e atuação nas questões humanas. Na verdade, o sentimento expresso por muitos é que este planeta é um relógio ao qual o Criador deu corda e abandonou à sua própria sorte. A essa idéia juntaram-se muitas outras, através dos séculos, formando o repertório de acusações, questionamentos e dúvidas sobre o caráter de Deus, que surgiram desde a entrada do pecado. Basta lembrar que a rebelião de Lúcifer, o querubim apóstata, lançou perante o Universo a seguinte dúvida: É Deus o Criador e governante justo? Suas leis podem ser observadas? Na sua pregação subversiva, Lúcifer “declarou que os anjos não precisavam de lei, mas deviam ser livres para seguir sua própria vontade, a qual os guiaria sempre retamente; que a lei era uma restrição a sua liberdade; e que a abolição da lei era um dos grandes objetivos da posição que assumira. A condição dos anjos, pensava ele, necessitava de aperfeiçoamento”. [1] Os resultados do motim são conhecidos: “Houve peleja no Céu. Miguel e os Seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos; todavia, não prevaleceram; nem mais se achou no Céu o lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a Terra, e, com ele, os seus anjos” (Apoc. 12:7-9). Justiça em xeque A expulsão do rebelde, num primeiro momento da ação divina, não exterminou a rebelião nem esclareceu todas as dúvidas postas à base do movimento; apenas definiu os contornos das questões envolvidas e transferiu para a Terra a seqüência de embates do grande conflito, ora iniciado. Procurando estabelecer o seu reino e ampliar o número de súditos, Satanás usou contra Adão e Eva as mesmas armas e táticas que já haviam se mostrado eficazes no Céu, levando-o a conquistar uma terça parte dos anjos (Apoc. 12:4). Novamente as dúvidas sobre o caráter de Deus, que, supostamente não queria que Suas criaturas evoluíssem, alcançando o mesmo nível em que Ele Se encontrava (Gên. 3:5), surtiram efeito. O primeiro casal cedeu à tentação, instaurando neste planeta o domínio do pecado. Satanás tornou-se, assim, por usurpação, o “príncipe deste mundo” (João 12:31; 14:30 e 16:11). Todos os próximos lances do conflito milenar evidenciariam que as dúvidas quanto ao caráter divino, semeadas no Céu e reafirmadas no Éden, não apenas persistiriam, como iriam avolumar-se à medida que a História humana avançasse rumo ao seu clímax. Como diz Carl Coffman, “no começo do grande conflito, Satanás acusou a Deus de ser injusto. No decorrer desse conflito na Terra, a humanidade muitas vezes expressou as acusações de Satanás”. [2] Ao encampar as acusações e dúvidas lançadas por Satanás contra Deus, a humanidade estaria contestando a própria base do governo divino: “Justiça e direito são o fundamento do Teu trono; graça e verdade Te precedem” (Sal. 89:14). “Nuvens e escuridão o rodeiam, justiça e juízo são a base do Seu trono” (Sal. 97:2). Esses emblemas do governo divino são reafirmados na visão que João teve do trono divino: “... ao redor do trono, há um arco-íris semelhante, no aspecto, a esmeralda” (Apoc. 4:3). Ora, a menção feita aqui do arco-íris circundando o trono divino é a contundente reafirmação de que o governo divino é o regime ideal, perfeito, pois é o único que consegue estabelecer o devido equilíbrio entre misericórdia e justiça. “Todo sistema de governo que falhe em combinar a justiça e a misericórdia, cairá algum dia pelo peso de sua própria corrupção. Esta é a razão pela qual a história humana não conhece nenhum sistema permanente de lei e ordem”, disse o escritor e pregador australiano Cedric Taylor. A grande notícia que os cristãos têm para dar ao mundo é que, não obstante o caos dos sistemas humanos de governo, o impossível foi alcançado. O sistema ideal de governo, que une misericórdia e justiça, foi alcançado. Tal sistema em breve será totalmente estabelecido e “esse reino subsistirá para sempre” (Dan. 2:44). A fase de transição já foi iniciada; mas enquanto o governo divino não se estabelece por completo, o inimigo trabalha de forma incansável para denegrir a imagem do futuro governo. A despeito da certeza de que “justo é o Senhor em todos os Seus caminhos, benigno em todas as Suas obras” (Sal. 145:17), persistem várias dúvidas e questionamentos sobre o caráter de Deus, que, no decorrer do conflito entre o bem e o mal, estão sendo paulatinamente esclarecidas. A questão é que, embora saibamos que “todos compareceremos perante o tribunal de Deus” (Rom. 14:10), no decorrer do conflito, e em última análise, é o Juiz quem está sendo julgado. “Deus é veraz, enquanto todo homem é mentiroso, conforme está escrito: ‘Para que sejas justificado nas Tuas palavras e triunfes quando fores julgado’” (Rom. 3:4 – A Bíblia de Jerusalém). A Bíblia na Linguagem de Hoje diz: “Deus continua verdadeiro, mesmo que todos sejam mentirosos. Como dizem as Escrituras Sagradas a respeito dEle: ‘Que fique provado que Tu és justo quando falas e que sejas aprovado quando fores julgado’.” E ainda a tradução Phillips diz: “Para que sejas justificado em Tuas palavras e possas prevalecer quando fores a juízo.” As várias traduções desse versículo transmitem claramente a idéia de que o próprio Deus passará por um tribunal; que Ele será julgado, e que o resultado desse julgamento será Seu completo triunfo. Para que “possas prevalecer quando fores a juízo”. [3] Momentos decisivos Da mesma forma como numa luta de boxe existem momentos cruciais onde um dos contendores assume a dianteira, marcando pontos decisivos, no grande conflito ocorrem lances em que ficam caracterizados o aparente predomínio e as intenções malévolas do oponente. A morte de Cristo no Calvário foi um desses momentos: “Mas o plano da redenção tinha um propósito ainda mais vasto e profundo do que a salvação do homem. Não foi para isto apenas que Cristo veio à Terra; não foi simplesmente para que os habitantes deste pequeno mundo pudessem considerar a lei de Deus como devia ela ser considerada; mas foi para reivindicar o caráter de Deus perante o Universo.” [4] Quando o Segundo Adão (Rom. 12:12-18) venceu onde o primeiro falhara, derrotando Satanás no próprio campo que ele alegara como seu, tornou-se patente perante o Universo o caráter injusto e infundado das acusações que o arquiinimigo movera contra Deus e Seu governo. “A grande contenda que estivera em andamento durante tanto tempo neste mundo, estava agora decidida, e Cristo era vencedor. Sua morte resolveu a questão de terem ou não o Pai e o Filho amor suficientes pelo homem para exercerem a abnegação e um espírito de sacrifício. Havia Satanás revelado seu verdadeiro caráter de mentiroso e assassino. Viu-se que o mesmo espírito, com que governara os filhos dos homens que estiveram sob o seu poder, ele teria manifestado se lhe fora permitido governar os seres do Céu. Unanimemente o Universo fiel uniu-se no engrandecimento da administração divina”. Essa idéia de vindicação do caráter divino encontra outro dos seus momentos decisivo no juízo pré-advento. Ao descrever os elementos do santuário e a disposição deles, Clifford Goldstein menciona que “Deus escolheu simbolizar o interesse dos seres celestiais, não na cruz, mas no local onde ocorre o juízo investigativo! Isso não diminui o que Jesus realizou na cruz. Ao contrário, apenas demonstra que, em relação ao Universo, nem tudo foi respondido no Calvário. As dúvidas seriam respondidas no juízo, o que explica por que o Senhor colocou os anjos no segundo compartimento, olhando para o juízo, e não no altar de ofertas queimadas, olhando para o Calvário (havia anjos bordados no primeiro compartimento, mas esta representação não é tão vívida quanto as duas estátuas de ouro). Evidentemente, o juízo também faz parte do processo de responder às indagações do Universo”. [7] “O juízo que precede o Segundo Advento proporcionará aos seres celestiais que não caíram amplas informações sobre as questões do grande conflito (Dan. 7:10).” [8] Paralelamente ao abrir os autos celestiais, desvelando a investigação dos registros das pessoas que aceitaram a Cristo nalguma ocasião da história terrena, o próprio Deus estará sendo julgado no que tange à Sua justiça ou imparcialidade no julgar: “Qual é a mensagem do primeiro anjo? ‘Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois vinda é a hora de Seu juízo’ (Apoc. 14:7). Isto significa que Deus começa a julgar, ou será que este verso se refere ao momento em que o próprio Deus é julgado: ‘a hora de Seu juízo’? Pode significar ambas as coisas. Ele está sendo julgado com base em Sua maneira de julgar!” [9] Com a abertura dos registros celestiais Deus fornece uma resposta satisfatória à pergunta que por séculos tem ecoado entre os fiéis: “Não fará justiça o juiz de toda a Terra?” (Gên. 18:25). “Obviamente, Deus vencerá esta causa, Ele triunfará, ou será justificado durante o juízo, quando apagar nossos pecados. ‘O Senhor dos exércitos é exaltado em juízo’” [10] O tipo ideal A vindicação ou justificação do caráter divino encontra um dos seus momentos cruciais na chamada “geração final”, o grupo de fiéis que estará vivendo na Terra pouco antes da segunda vinda de Jesus. Para entendermos a importância dessa fase histórico-profética, é só lembrar o cerne das acusações movidas por Satanás contra Deus e o Seu governo que desencadearam o grande conflito: “Satanás tornou-se mais ousado em sua rebelião, e expressou seu desprezo à lei do Criador. Esta Satanás não podia suportar. Declarou que os anjos não precisavam de lei, mas deviam ser livres para seguir sua própria vontade, a qual os guiaria sempre retamente; que a lei era uma restrição à sua liberdade; e que a abolição da lei era um dos grandes objetivos da posição que assumira.” [11] O ódio de Satanás contra a lei divina é facilmente entendido pela posição preeminente que ela ocupa: “A lei é uma expressão do caráter, uma revelação do espírito. Por esta razão a lei de Deus é importante. É parte de Deus, por assim dizer. Revela-O. É um transunto de Seu caráter, uma expressão finita do infinito. Nela se nos dá um vislumbre do próprio pensamento de Deus; uma visão da base de Seu governo.” [12] Ao opor-se ao governo divino, Satanás concentrou os seus ataques no símbolo maior deste governo, a lei. No transcurso do grande conflito ele tem perpetuado a acusação de que Deus é tirano e que é impossível para as Suas criaturas seguir à risca os princípios contidos na lei. Através dos séculos, ele tem ecoado o seu brado desafiador: “Ninguém pode guardar a lei. É impossível. Se existe alguém que possa fazê-lo ou que o haja feito, me mostre! Onde estão os pretensos guardadores dos mandamentos? Deus responde calmamente: ‘Aqui está a paciência dos santos; os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus’” (Apoc. 14:12). [13] Vindicação plena Durante o Milênio, na segunda fase do julgamento, serão investigados os registros daqueles que rejeitaram a Cristo. Este será o julgamento dos ímpios mortos. Esta ação divina, compartilhada pelos salvos (I Cor. 6:2 e 3), ao mesmo tempo que vindica o caráter dos fiéis, respondendo à pergunta: “Até quando, ó Soberano Senhor, Santo e Verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a Terra?” (Apoc. 6:10), justifica o caráter divino quanto às Suas ações, no grande conflito, no que se refere ao pecado e pecadores. “A segunda fase do julgamento é de capital importância para os santos. Ao ser examinado cada caso, ficará bem claro que Deus concedeu a cada pessoa a oportunidade de salvar-se; ver-se-á que elas rejeitaram os Seus convites e que Ele foi totalmente justo ao excluí-las do reino eterno.” [14] Essas fases do julgamento nos dizem muita coisa sobre o caráter do nosso Criador. Tornam patente a isenção e transparência divina no trato com Suas criaturas. “Seu Universo não é administrado como um país fascista, onde as pessoas são presas, julgadas e condenadas secretamente. Ao contrário, Deus trata da questão do pecado e da rebelião de maneira aberta – perante todo o Céu, que terá suas indagações a respeito de Seu caráter respondidas. O próprio Deus será aprovado quando [for] julgado.” [15] Todos reconhecerão que Deus foi infinitamente justo e misericordioso. Todas as suas ações de intervenções no desenrolar do grande conflito estarão esclarecidas e plenamente justificadas. O Universo compreenderá o caráter injustificável e maligno do pecado e os sacrifícios feitos pela divindade para resgatar a raça humana, rebelde e perdida. A própria destruição do pecado, na pessoa do seu originador e seguidores, será uma etapa decisiva na vindicação do caráter de Deus perante o Universo: “Satanás vê que sua rebelião voluntária o inabilitou para o Céu. Adestrou suas faculdades para guerrear contra Deus; a pureza, paz e harmonia do Céu ser-lhe-iam suprema tortura. Suas acusações contra a misericórdia e justiça de Deus silenciaram agora. A exprobração que se esforçou por lançar sobre Jeová repousa inteiramente sobre ele. E agora Satanás se curva e confessa a justiça de sua sentença.” [16] “Todas as questões sobre a verdade e o erro no prolongado conflito foram agora esclarecidas. Os resultados da rebelião, os frutos de se porem de parte os estatutos divinos, foram patenteados à vista de todos os seres criados. Os resultados do governo de Satanás em contraste com o de Deus, foram apresentados a todo o Universo. As próprias obras de Satanás o condenaram. “A sabedoria de Deus, Sua justiça e bondade, acham-se plenamente reivindicadas. Vê-se que toda a Sua ação no grande conflito foi orientada com respeito ao bem eterno de Seu povo, e ao bem de todos os mundos que criou. ... A história do pecado permanecerá por toda a eternidade como testemunha de que a existência da lei de Deus se acha ligada à felicidade de todos os seres por Ele criados.” [17] Agora o Universo está novamente integrado à perfeita harmonia primitiva. Os salvos de todas as eras cantam: “Grandes e admiráveis são as Tuas obras, Senhor Deus, todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei das nações!” (Apoc. 15:3). Nenhuma nota dissonante jamais se fará ouvir. O mal não mais se levantará (Naum 1:9). E, ao ser patenteada perante todo o Universo a perfeição da justiça divina, o germe do pecado, a dúvida (Gên. 3:4 e 5), será então totalmente extirpado impedindo, assim, que ele venha ressurgir. Pelos séculos intermináveis da eternidade ninguém terá dúvida alguma quanto à misericórdia e justiça divinas. Ninguém quererá rebelar-se contra o governo de Deus. Os registros do grande conflito terão provado definitivamente que Seu amor é infinito e que a Sua justiça é a própria marca da perfeição.
Autor: Elizeu C. Lira, Editor do IASD Em Foco Artigo publicado originalmente na revista “Ministério” Julho/Agosto de 2003. Obs.: Texto reformatado.
Referências: 1 Ellen G. White, História da Redenção, págs. 18 e 19. 2 Lição da Escola Sabatina, 3º Trimestre de 1989, pág. 169. 3 Clifford Goldstein, 1844 Uma Explicação Simples das Principais Profecias de Daniel, págs. 98 e 99. 4 Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, pág. 68. 5 Idem, pág. 69. 6 Idem, pág. 70. 7 Clifford Goldstein, Op. Cit., pág. 98. 8 Lição da Escola Sabatina, 3º Trimestre de 1989, pág. 168. 9 Clifford Goldstein, Op. Cit., pág. 100. 10 Idem, pág. 99. 11 Ellen G. White, História da Redenção, págs. 18 e 19. 12 Lição da Escola Sabatina, 3º Trimestre de 1989, pág. 169. 13 M. L. Andreasen, O Ritual do Santuário, pág. 250. 14 Lição da Escola Sabatina, 3º Trimestre de 1989, pág. 169. 15 Clifford Goldstein, Op. Cit., pág. 100. 16 Ellen G. White, O Grande Conflito, pág. 670. 17 Idem, pág. 670 e 671.