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postado em: 10/9/2010
Eleições: envolver-se ou não?
As eleições estão às portas e mais uma vez surge o dilema: devemos ou não nos envolver em assuntos políticos?
Uma vez, acompanhando o Pr. N. Wilson, ex-presidente da Associação Geral, em uma de suas passagens pelo Brasil, presenciei alguns irmãos pedindo a ele que a Igreja Adventista tomasse uma determinada posição em relação às eleições daquele ano. Ele simplesmente respondeu que a Igreja pode apresentar princípios bíblicos, mas não cabe a ela deliberar sobre assuntos que são de responsabilidade individual de cada membro.
Já presenciei discussões acaloradas sobre a igreja e a política, com posições extremamente radicais de cada lado. Um parente meu era capaz de “chegar às vias de fato” em defesa de um determinado candidato. Isso faz uns 50 anos! Mas a história não mudou.
E há aqueles que se aproveitam das campanhas políticas para “tirarem uma casquinha” dos candidatos: tijolos ou telhas para a construção de uma igreja, fanfarra para o clube de desbravadores, becas para o coral, e por aí vai...
Outros, não menos briguentos, cuspindo fogo, esfregam na cara de quem fala em política, aqueles conhecidos textos de E. G. White, destacando que não nos devemos envolver em questões políticas.
Bem, se a consideramos como mensageira do Senhor – e assim cremos – então essa turma tem razão. Ponto final! (Menos pelas brigas, claro!)
Espere um pouco, vamos dar uma olhada no contexto em que as afirmações foram feitas: de meados para o final do século dezenove, especificamente nos Estados Unidos da América, onde voto já era opcional, e continua ainda hoje não sendo obrigatório. Esse é um ponto a considerar.
De fato, ela aconselha o povo de Deus a não se envolver em questões políticas. E por razões muito óbvias, completamente válidas para o século vinte e um:
“Não devemos, como um povo, envolver-nos em questões políticas. Todos fariam bem em dar ouvidos à Palavra de Deus: Não vos prendais a um jugo desigual com os incrédulos em luta política, nem vos vinculeis a eles em suas ligações. Não há terreno seguro em que possam estar e trabalhar juntos. O fiel e o infiel não têm terreno neutro em que possam encontrar-se.” (ME, Vol. II, pág. 336.).
E nada temos a acrescentar quanto a esses conselhos. São realmente inspirados. Se no seu tempo já era difícil confiar na classe política, imagine-se agora! Basta dar uma espiada nos noticiários para ficarmos enojados com a corrupção que expande seus tentáculos até pelas instituições “mais confiáveis”.
Agora vem um ponto que nos coloca em xeque: no Brasil, o voto é obrigatório. Jesus disse: “Daí a César o que é de César...” Se ele estivesse hoje na Terra, talvez dissesse que precisamos exercer a cidadania na escolha de nossos governantes.
Alguém poderá dizer: então, se sou obrigado a votar, voto nulo ou em branco. É seu direito legítimo, garantido em lei. Ainda assim é um posicionamento político. Não temos saída, pelos menos na época de eleições. Não existe o conveniente “em cima do muro”.
Uma posição tem de ser tomada quanto ao voto. Deixar de votar, além de ser uma desobediência civil é simplesmente não dar a César o que lhe pertence e também desobedecer a uma ordem de Jesus.
Vamos dar uma olhada neste outro texto, extraído do diário de E. G. White, de 1859.
“Assisti à reunião à noitinha. Tivemos uma reunião espontânea, interessante. Depois do tempo de terminar, foi considerada a questão de votar, demorando-nos sobre ela. Primeiro, falou Tiago, depois o irmão [J. N.] Andrews, e foi por eles julgado melhor pôr sua influência a favor do direito e contra o erro. Eles acham que é direito votar em favor dos homens defensores da temperança governarem em nossa cidade, em vez de, por seu silêncio, correr o risco de serem eleitos homens intemperantes. O irmão [Davi] Hewitt conta sua experiência de alguns dias atrás e está certo de ser direito dar seu voto. O irmão [Josias] Hart fala bem. O irmão [Henrique] Lyon se opõe. Nenhum outro é contrário ao votar, mas o irmão [J. P.] Kellogg começa a julgar que é direito. Os sentimentos são cordiais entre todos os irmãos. Oh! que todos eles procedam no temor de Deus.”
Então, como ela continua sendo a mesma mensageira do Senhor, aqui vemos uma situação envolvendo eleições civis em que ela parece apoiar que se vote em favor dos “dos homens defensores da temperança governarem em nossa cidade, em vez de, por seu silêncio, correr o risco de serem eleitos homens intemperantes.” Daí, fica entendido que precisamos tomar posição ao lado de políticos honestos.
Assim, temos uma responsabilidade quanto ao voto que vamos dar aos postulantes de cargos públicos nas próximas eleições. Seguindo o conselho de Ellen White, não devemos dar nosso voto a partidos políticos. Corretíssimo! A maioria deles têm ideologias que vão de encontro aos princípios bíblicos. Mas podemos, e devemos escolher candidatos que, ao menos, não contrariem a Palavra de Deus – como a defesa do aborto, só para citar um exemplo. Outros casos é melhor sequer mencioná-los para não correr o risco de levar um processo de graça.
Assim, podemos e devemos escolher pessoas decentes, que não estejam se candidatando apenas por causa de seus próprios interesses ou de grupos que representam – incluindo-se até mesmo denominações religiosas. Político decente tem que defender os interesses do nosso País, não de grupos em particular. Reconheço a dificuldade de se achar político honesto e correto, mas com paciência e pesquisa, e também com a guia do Espírito Santo haveremos de encontrá-los.
Mas aí vai um alerta vermelho: não devemos votar em pessoas ligadas a partidos que fechem questão em pontos de vista que contrariem princípios da Palavra de Deus. Se votarmos nesses indivíduos, teremos corresponsabilidade nas leis que eles ajudarem a votar. E isso é sério!
Para sua informação, dê uma olhada nos programas partidários que estão disponíveis na internet e vai ser fácil descobrir quem é quem e no que acredita.
Querido irmão, todos somos, ao menos em parte, responsáveis pelos governantes que serão eleitos nas próximas eleições. Se votarmos em branco ou nulo (repito, é opção válida e lícita) talvez estejamos colaborando indiretamente para eleger alguém que vai levar nosso país, entre outras coisas, para uma situação de intolerância democrática, como já vemos acontecer em nossa vizinhança.
É claro que somos cidadãos do Céu, aqui não é nosso lugar de descanso. Mas enquanto estamos no mundo (e Jesus não pediu ao Pai que nos tirasse do mundo ainda, mas que nos livrasse do mal), temos de cumprir nosso papel como bons cidadãos e fazer nossa parte pelo progresso e pela paz do lugar em que vivemos.
E que Jesus venha logo, pois está ficando cada vez mais difícil permanecer aqui neste mundo corrupto!
Maranata, ora vem Senhor Jesus!
Wilson de Almeida
Coluna “Falando Francamente” iasdemfoco.net